Fogo já consumiu 10 mil hectares do DF e castiga moradores da capital
Thalita Lins
Ariadne Sakkis
Thaís Paranhos
Publicação: 10/09/2011 08:00 Atualização:
As chamas que consomem a Flona prejudicaram ainda mais as condições do ar |
O fogo continua consumindo o Distrito Federal. Desde janeiro, as chamas já consumiram mais de 10 mil hectares, número maior do que o registrado em todo o ano passado, quando foram devastados 8.296,95 hectares. Somente ontem, o Corpo de Bombeiros recebeu 352 chamados e realizou 25 atendimentos. Mas as queimadas de maior destaque continuam ocorrendo na Floresta Nacional (Flona) e no Jardim Botânico. Com o tempo seco, os militares conseguem controlar o fogo, mas as fagulhas se espalham com facilidade e atingem áreas de difícil acesso. Ontem, além de enfrentar os problemas típicos do período de estiagem, os brasilienses passaram a conviver com a fumaça que encobriu boa parte da cidade e dificultou as atividades no aeroporto. A baixa umidade do ar também levou o Governo do DF a decretar estado de alerta.
A maior parte dos 500 militares e voluntários responsáveis por combater os incêndios no DF trabalha para controlar os incêndios na Flona e no Jardim Botânico. Segundo o coronel do Corpo de Bombeiros, Luiz Blumm, 274 homens, dois helicópteros e quatro aviões são usados para conter as chamas. “Antecipamos em 20 dias o início das operações do avião de combate a incêndio mais moderno do mundo, com capacidade para 3,1 mil litros. O ICMBio contratou outros dois equipamentos e ainda temos um de observação”, explicou. A Força Aérea Brasileira também ofereceu uma aeronave C-130, que pode lançar 12 mil litros de água por voo. A previsão é que o veículo comece a operar hoje, a partir das 6h.
Segundo uma previsão otimista da direção da Flona 1, localizada às margens da BR-070, pelo menos 65% da área foi queimada. Isso corresponde a quase 2 mil dos 3.353 hectares da floresta. Pela manhã, bombeiros e funcionários da Flona sobrevoaram a região a bordo do helicóptero militar e destacaram três grandes frentes a serem combatidas. “Nosso principal objetivo é impedir a passagem do fogo para o Parque Nacional e a preservação da estrutura da sede da Flona”, indicou a diretora do local, Miriam Ferreira. A direção do Jardim Botânico se transformou em base para a organização de bombeiros e brigadistas do PrevFogo, organismo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Na Reserva da Aeronáutica, vizinha do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, as chamas não deram trégua e exigiram maior empenho tático. O perigo aumentou quando o fogo se aproximou da pista de manobra dos aviões. A fumaça atrapalhou passageiros e funcionários do terminal e, entre as 4h30 e as 10h20, pousos e decolagens foram realizados com auxílio de instrumentos. De acordo com a assessoria de comunicação da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), não foi necessário mudar o fluxo das aeronaves por conta da fumaça.
Condição extrema
10mil hectares foram queimados este ano desde o início da seca
500 bombeiros trabalham para extinguir os incêndios no DF
15% menor índice de umidade relativa do ar registrado ontem
3,1 mil litros é a capacidade do novo avião do Corpo de Bombeiros
Estado de alerta
Por
meio de uma portaria, o GDF decretou na tarde de ontem estado de
alerta no Distrito Federal. A medida orienta os brasilienses a evitarem
atividades físicas das 10h às 17h e proíbe a realização de práticas ao
ar livre na rede pública no período vespertino. Os órgãos da
administração também deverão adotar medidas para minimizar os efeitos da
seca e não prejudicar a saúde dos servidores. O secretário da Defesa
Civil, Paulo Roberto Matos, destacou que a umidade relativa do ar no DF
atingiu níveis entre 12% e 20% por mais de três dias consecutivos, o
que justifica o alerta. “A diferença este ano é que o índice está num
patamar baixo por bastante tempo”, explicou. Ontem, os termômetros
registraram 32º na hora mais quente do dia. O decreto estabelece também a suspensão das atividades físicas em todos os colégios públicos das 13h às 17, considerado o período mais crítico do dia. De acordo com o secretário de Educação do Distrito Federal, Denílson Bento da Costa, todas as regionais de ensino foram avisadas sobre a medida.
Com os incêndios, o aumento de partículas suspensas no ar contribui para a queda da qualidade do ar. Espalhada pelo vento, a fumaça encobriu alguns cartões-postais da capital federal, como a Ponte JK e o Congresso Nacional, e escondeu parte do Lago Paranoá. O veterinário César Rocha Coelho, 53 anos, morador da Asa Sul, saiu de casa no início da manhã na tentativa de descobrir de onde vinha a fumaça que encobria a 402 Sul, onde vive. “Moro em Brasília desde 1957 e nunca vi uma situação como essa”, observou.