Hackers do bem divulgam informações para a sociedade
20/01/2012 | 08h08 | Transparência
Na imaginação de boa parte dos cidadãos, hacker é a pessoa que invade
páginas da internet, causando por vezes enormes prejuízos operacionais.
Mas existem grupos de desenvolvedores prontos para mudar este
estereótipo. Já conhecidos como "hackers do bem", eles usam o tempo
livre para criar programas e gráficos que mostrem, de forma simples e
amigável, como o governo gasta os recursos. Também produzem e
disponibilizam na internet mapas com informações sobre Segurança, Saúde e
Educação.
Os primeiros grupos de desenvolvedores preocupados com a
transparência pública surgiram há pelo menos três anos e ainda contam
com um número restrito de adeptos que se comunicam por meio de listas na
internet. Mesmo sendo poucos, eles têm feito bonito em competições
internacionais da área. Nestas disputas, a organização estabelece um
tempo para que as equipes criem um programa com base em dados
disponibilizados por seus respectivos governos.
Em dezembro do ano passado, seis jovens brasileiros venceram cerca de
400 concorrentes da América Latina, após desenvolverem durante 30 horas
seguidas um mapa da criminalidade no Rio Grande do Sul, onde é possível
saber quais cidades têm maior incidência de um determinado crime.
"Nosso maior desafio é conseguir tratar os dados do que desenvolver a
visualização em si. Enquanto o governo não liberar os dados de forma
correta, fica mais difícil", explica o desenvolvedor Thiago Rondon, de
27 anos, membro de um grupo chamado Open Data e da equipe vencedora, que
vai à Califórnia conhecer a sede da Google, como prêmio.
Estes grupos ainda encontram dificuldades para levar adiante a
iniciativa, como a incipiência de dados abertos por parte do governo, ou
seja, informações em formato adequado para serem lidos diretamente por
programas de computador. O Portal Brasileiro de Dados Abertos funcionará
como um grande índice para saber onde estão disponíveis este tipo de
informações no governo, mas, por enquanto, existe apenas numa versão de
teste. Segundo o ministério, o site ficará pronto somente abril.
"O portal será um ponto de referência, só que para isso acontecer é
preciso que os órgãos passem a aderir aos dados abertos", explica o
desenvolvedor Alexandre Gomes, de 34 anos, membro do grupo Transparência
Hacker que contribuiu para criação do portal por meio de reuniões
quinzenais com servidores do Ministério do Planejamento.
A criação da página faz parte das medidas para aumentar a
transparência pública e o combate à corrupção, conforme o país se
comprometeu no lançamento da Parceria para o Governo Aberto (OGP, sigla
em inglês), firmada por oito países em setembro de 2011. Outras 43
nações já manifestaram interesse em participar. O evento contou,
inclusive, com a presença dos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e
dos Estados Unidos, Barack Obama.
Pesquisador de Transparência Pública pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV), Fabiano Angélico diz que colocar um portal de dados abertos no ar
é importante. Mas não é a única medida a ser tomada: "Não adianta
disponibilizar o dado aberto, por mais bem intencionada que seja essa
ação, se você não tiver pessoas que saibam de informática, de cidadania e
de transparência. Você tem que saber que informação realmente mais vai
ajudar a combater corrupção. Tem que ter uma equipe, cursos e
treinamento para a sociedade em geral".
Veja alguns destes trabalhos (clique para conferir)
Da Agência O Globo
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