Mesmo com histórico de tragédias, Brasil não investe em prevenção
Prevenção
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Imagem: Teresa Maia/DP/D.A Press/Arquivo
RIO - A Comissão Especial de Medidas Preventivas e Saneadoras de
Catástrofes Climáticas da Câmara dos Deputados concluiu relatório que
aponta para um histórico de tragédias naturais no Brasil e mostra que
pouco se fez para evitar a ação da natureza. Entre os anos de 2000 e
2010, pelo menos duas mil pessoas morreram em acidentes climáticos.
Somente em 2010 foram comunicados à Secretaria Nacional de Defesa Civil
ocorrências em 883 municípios. Somado ao número de mortos registrado na
enxurrada de 2011 que devastou áreas de municípios da Região Serrana
do Rio, o total de vítimas fatais sobe para quase três mil.
A falta de investimentos em prevenção citada no relatório da comissão
é ratificada por estudo divulgado nesta terça-feira pela Confederação
Nacional dos Municípios (CNM). A pesquisa mostra uma disparidade entre
as verbas aplicadas no socorro às cidades e as usadas na prevenção.
Segundo a CNM, de 2006 a 2011 o governo federal gastou R$ 745 milhões
para prevenir acidentes, contra R$ 6,3 bilhões no socorro.
- O governo praticamente não destina nada para a prevenção. Quem é
contemplado com ações de socorro enfrenta a burocracia. No primeiro ano
recebe uns 8% da verba anunciada, no ano seguinte, 20%, e depois o que
falta cai em restos a pagar e não aparece nunca mais - reclama o
presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Rio é o estado com maior número de ocorrências
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Piauí,
Bahia e Rio Grande do Sul são os sete estados que mais sofreram de 2000
a 2010, segundo o relatório da Câmara. As tragédias prejudicaram,
direta ou indiretamente, 10,4 milhões de pessoas. No estado do Rio, as
catástrofes foram agravadas pelo "incremento da construção civil e a
reocupação de áreas de risco". Os deputados afirmam que, na serra
fluminense, 85% das áreas atingidas por deslizamentos em 2011 "foram
desmatadas ou alteradas pela ação do homem".
O texto, entregue no final de dezembro ao presidente da Casa, Marco
Maia (PT-RS), sugere três medidas para serem votadas no Congresso: uma
emenda à Constituição (PEC) que cria o Fundo Nacional de Proteção Civil
- substituiria o atual fundo para catástrofes -; o desenvolvimento do
Estatuto de Proteção Civil, que define responsabilidades de municípios,
estados e União; e apoio técnico e financeiro por parte do governo
federal para instalação de centros de operações de desastres.
- Hoje os recursos são para socorrer os municípios. Com o novo fundo
será possível prevenir. Existe um estudo internacional que aponta que
para cada dólar aplicado em prevenção, sete são economizados. É preciso
cobrar os planos diretores e evitar tragédias, como a do ano passado.
Nova Friburgo, por exemplo, ainda não se recuperou. Há duas mil pessoas
à espera do aluguel social - afirma o relator da comissão, deputado
Glauber Braga (PSB-RJ).
Membro da comissão que produziu o relatório, o líder da bancada
fluminense na Câmara Hugo Leal (PSC-RJ) pediu à presidência da Câmara
urgência na votação das propostas. Segundo ele, o Rio esbarra na falta
de liberação de verbas para a prevenção de catástrofes. Embora
aprovadas emendas, o governo não liberaria as verbas.
- As pessoas têm que entender que não podemos mais tratar os casos
como tragédias. Hoje são rotina. O Rio tem projetos, há casos de
cidades da Baixada Fluminense que tiveram verbas aprovadas no ano
passado, mas que não chegaram até hoje.
Da Agência O Globo
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