Pessoas com deficiência visual querem maior uso do sistema braile no Brasil
04/01/2012 | 07h35 | Dia mundial
No Dia Mundial do Braile, comemorado hoje (4), pessoas com
deficiência visual cobram maior uso do sistema de leitura e escrita no
Brasil.
Criado pelo francês Louis Braille, nascido em 4 de janeiro de 1809 e
que perdeu a visão aos 3 anos, o sistema permite a pessoas com cegueira
total ou parcial ler por meio do tato. Com seis pontos em relevo
dispostos em duas colunas e três linhas, o sistema proporciona 63
combinações diferentes que representam as letras do alfabeto, os
números, símbolos científicos, da música, fonética e informática. Com
apenas um toque, o cego percebe os pontos em relevo ao passar os dedos
da esquerda para a direita. O sistema braile chegou ao Brasil em 1850. A
partir da década de 1940, passou a ser usado em livros.
Apesar de já existir cardápios em restaurantes e embalagens de
cosméticos e de remédios em braile, cegos ou pessoas com baixa visão
ainda reclamam da dificuldade de encontrar informações adaptadas. “Os
mercados não informam nada em braile sobre promoções [de mercadorias].
Não tem nada”, disse a vice-presidente da Associação Brasiliense de
Deficientes Visuais (ABDV), Adriana Candeias, que é cega.
“A gente não tem condições de saber o que está comprando, a
validade. Algumas empresas já estão implantando, mas ainda falta muito”,
acrescentou o diretor administrativo da associação, Paulo Luz, que
também tem deficiência visual.
A vice-presidente reforçou que o braile garante independência aos
cegos. “A partir do momento em que é oferecido algo em braile, a pessoa
com deficiência visual passa a ser independente. Ela sabe que pode ir
ao estabelecimento sozinho e vai ter total acesso”, destacou Adriana
Candeias.
Os representantes da associação também alertaram para a demora de
livros didáticos novos serem transformados para o braile. “Lançam um
livro hoje, mas quando o cego vai ter acesso à obra, ela já está
ultrapassada”, argumentou Paulo Luz.
As editoras não são obrigadas a publicar em braile todas as obras
lançadas. Quando recebe pedidos, o setor, geralmente, recorre a empresas
especializadas e instituições não governamentais para fazer a
conversão, segundo a coordenadora de Revisão Braile da Fundação Dorina
Nowill para Cegos, Regina Fátima de Oliveira
Os livros falados têm sido usados para conseguir textos atualizados
com rapidez. Desde 2009, o Ministério da Educação disponibiliza, de
graça, um software que converte qualquer texto de computador em sonoro, com narração em português.
Apesar dos benefícios da tecnologia, a coordenadora defende que o
livro em braie é primordial nos primeiros anos escolares das crianças
cegas. “Para que possa ter domínio da ortografia ou da simbologia da
matemática, a criança precisa do livro físico, assim como é com as
crianças que enxergam. A gente só lê quando toca”, explicou.
O crescimento da utilização do audiolivro pode estar relacionado ao
custo mais baixo em comparação ao de braille. Cada página de um texto
comum equivale a até quatro páginas em braile, conforme a especialista.
No Brasil, existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência
visual, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão, segundo dados
da fundação com base no Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Da Agência Brasil
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