Juntos para sempre - não é conto de fadas, é real
Casais contam como conseguiram ter um casamento feliz e
duradouro, superando as crises e a rotina numa época em que ficou fácil
se divorciar
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O casamento de Antônio Fernandes e Maria
Pereira Fernandes começou em 1957, em plenos anos dourados. Maria
estava num ponto de ônibus quando Antonio passou com amigos que o
desafiaram a paquerá-la. Ele aceitou o desafio, eles conversaram, depois
namoraram por 4 anos e estão casados até hoje. “Foi amor à primeira
vista”, lembra Maria, que tinha 25 anos e já estava “madura” para os
padrões da época. Hoje, aos 80 anos ela acredita que aproveitou bem a
juventude e é feliz com a família que construiu, composta de um filho
biológico e quatro adotivos, três netos e um bisneto.
Uniões como essa são cada vez mais
raras, mas persistem. Segundo os dados do Censo 2010, o número de
casamentos formais caiu na última década, e os divórcios aumentaram. A
situação se repete em todo o mundo. Na capital do México, onde o índice
de separação chega a 50%, o parlamento discute casamentos temporários de
apenas 2 anos. Se o casal quiser permanecer junto depois desse tempo
tem que renovar o contrato. Caso contrário, a separação é automática.
Ao se casar, as pessoas buscam a felicidade, mas a individualidade e a
intolerância cada vez mais minam relações que muitas vezes sequer
começaram. Maior tolerância com as uniões estáveis e facilidades
jurídicas para se divorciar são alguns dos fatores que levam aos
rompimentos. No entanto, muitos casais ainda buscam concretizar o
“felizes para sempre” e permanecem juntos durante anos, décadas.
Casamentos longos não significam
necessariamente que o casal seja feliz. Construir relações saudáveis
precisam ser o foco para que a durabilidade seja acompanhada de
felicidade. Quanto mais tempo o casal passa junto, mais chances tem de
desenvolver companheirismo, intimidade e respeito mútuo.
Em relações humanas, não existem fórmulas, mas o pesquisador
norte-americano John Gottam estudou 50 casais ao longo de 16 anos e
chegou a sete princípios fundamentais para que o casamento dê certo
(veja as ilustrações ao longo da reportagem). A manutenção do afeto e a
busca pela harmonia parecem ser mais influentes na duração das relações
do que a facilidade de se divorciar.
O casal Fernandes concorda. Antonio
conta que não imaginava que seu casamento durasse tanto tempo e que
nunca sentiu nenhum tipo de pressão por parte da família para manter o
relacionamento para sempre. “Quando casei, nunca imaginei que ia durar.
Eu queria sair da casa dos meus pais. Sou filho de imigrantes
portugueses, tive uma criação machista, intolerante. O homem tinha que
ser durão, e a mulher tinha que ser tratada como um lixo. Mas, me
apaixonei”, confessa.
“A gente tem que ter humildade. Não ter o orgulho besta que nossos pais tinham”, avalia Antonio, aos 78 anos.
Exemplo
Já Nair Adriani Mançano, de 81 anos, 57 anos deles casada com José,
sempre acreditou que seu casamento seria longo, como foi o de seus pais.
“Minha família era muito estruturada e eu acreditava que casamento era
para sempre. Mas, o importante é ter carinho e respeito mesmo.” Para
eles, a maior tolerância em relação ao divórcio não influenciou o
relacionamento do casal. “A gente já passou por tanta coisa. Já passamos
por muitos apertos, mas sempre juntos”, relembra José.
Se para Nair o exemplo dos pais foi uma
influência forte, o mesmo não aconteceu com a prole do casal, que tem
duas filhas, uma delas divorciada. “Hoje em dia as pessoas são mais
intolerantes”, acredita José. Mas ele não condena a separação da filha.
“Cada um tem o seu jeito de pensar, e a gente tem que respeitar.”
Os dois filhos dos Fernandes também se
separaram. O mais velho rompeu o matrimonio depois de 26 anos de casado e
a mais nova depois de 1 ano. Tempos depois casou-se de novo e já vive
há 20 anos com o atual marido.
“Os casais mais jovens têm facilidade
para o divórcio porque a construção conjugal ainda é menor e o
investimento também. Quanto mais passa o tempo mais as pessoas pensam
duas vezes antes de terminar uma relação de casamento”, aponta a
psicóloga familiar da Universidade Pontifícia Católica (PUC)de São
Paulo, Ceneide Cerveny.
Bombeiros
José
e Antonio são reconhecidamente os “bombeiros” de seus casamentos. Nair e
Maria admitem ser mais esquentadas e reconhecem a calma dos maridos
como um fator importante na relação. “Para a mulher é sempre mais
difícil, porque a gente acaba ficando mais com os filhos, resolvendo os
problemas da casa. Mas ele sempre esteve presente. Até hoje, a gente faz
a faxina juntos, se tiver que fazer uma compra ele faz”, conta Nair.
“Sempre tivemos rusgas,
desentendimentos. A intolerância em certos momentos é o mais difícil.
Depois do amor, o maior segredo é a tolerância”, acredita Antonio. E
deve ser mesmo. A tolerância está presente em três dos sete princípios
levantados cientificamente por Gottman. No livro, em que descreve os
resultados do estudo, ele chama a atenção para as mudanças pelas quais o
casal passa e a necessidade de estar preparado para lidar com elas.
Algumas diferenças talvez não sejam superadas nunca. Afinal, os casais
por mais unidos que sejam, são formados por duas pessoas diferentes, mas
não precisam causar magoas. O diálogo é o melhor caminho para entender a
importância que o fator que levou ao impasse tem para o outro.
“Nessa hora entram em cena as adaptações
e as renegociações para voltar ao equilíbrio. Acho que começam na
comunicação ou na falta dela as decepções e os conflitos que podem
chegar ao ponto do rompimento da relação”, acredita a psicóloga Ceneide
Cerveny.
Sonhos
Nair e José se conheceram em Jundiaí, no
interior de São Paulo e se mudaram para a capital em 1958 atrás de
oportunidades melhores de emprego. “A gente sempre correu atrás junto de
condições melhores”, afirma José.
Na casa dos Fernandes o companheirismo e
a construção de sonhos comuns também sempre existiram. “Sempre tivemos
aspirações e quisemos construir as coisas juntos, e isso motivou a
gente”, conta Antonio. “Hoje em dia os casais competem. Isso não pode
acontecer. Os dois tem que ser iguais”, define.
Casal festeja os 50 em queda livre
Um
casal norte-americano fugiu das tradições para celebrar as bodas de
ouro de seu casamento. Em vez de jantar romântico, viagem dos sonhos ou
grande festa para a família e os amigos, Alan Dodd, de 69 anos, e Pat,
de 71, decidiram celebrar a data nada mais nada menos do que a 4.200
metros de altura, com um salto de paraquedas. “Cinquenta anos de casados
é uma circunstância significativa o bastante para querer fazer algo um
pouco diferente do que qualquer um faria normalmente”, disse Dodd ao
canal de tevê norte-americano KRQE.
No início, Pat não gostou muito da
ideia, mas após muita insistência do marido, ela tomou coragem e decidiu
aproveitar a “festa”. Eles gostaram tanto da experiência que já estão
planejando repetir a dose. “Estou pensando em pular outra vez no nosso
75º aniversário”, brincou Dodd. Os dois concordam que a aventura radical
está entre os melhores momentos que já passaram juntos nessas 5 décadas
de amor e companheirismo.
O casal surpreendeu a todos passando o
vídeo do salto na recepção que fizeram para alguns familiares e amigos
para comemorar as bodas de ouro. Segundo eles, os quatro filhos ficaram
espantados ao ver o filme.
Folha Universal
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