Câncer de Lula estimula conciliação com FHC
ADVERSÁRIOS POR
TODA VIDA, UNIDOS APENAS EM ALGUNS MOMENTOS HISTÓRICOS (ACIMA, EM 1978,
NA CAMPANHA DE FERNANDO HENRIQUE PARA SENADOR), OS DOIS MAIORES LÍDERES
POLÍTICOS DO PAÍS ESTÃO A UM PASSO DE VOLTAREM A SE FALAR; DOENÇA
DESPERTA SOLIDARIEDADE E COMPREENSÃO
Nos
últimos 16 anos, Fernando Henrique Cardoso, o maior ídolo dos tucanos
do PSDB, presidente da República entre 1995 e 2002, e Luiz Inácio Lula
da Silva, 'dono' do PT e presidente entre 2003 e 2010, tiveram apenas um
encontro, o mais protocolar de todos – quando o primeiro colocou a
faixa presidencial sobre o ombro do segundo. Nem pessoalmente, nem por
telefone, e-mail ou intermediários eles se falaram depois. Tiveram,
simplesmente, o chamado contato zero, cada um no seu quadrado, como se
diz hoje.
"Ele
nunca me convidou para ir até lá", registrou Lula, num programa Roda
Viva, perguntado se o então presidente FH o chamara para alguma conversa
em palácio. "Jamais tive dele um telefonema sequer", ecoava, anos
depois, em Paris, o Fernando Henrique que acabara de deixar a
Presidência da República para Lula.
Nem
sempre, porém, houve toda essa frieza e distância. Corria o ano de
1978, em São Paulo, quando, então candidato ao Senado pelo PMDB,
Fernando Henrique recebeu o apoio luxuoso de Lula num ato de panfletagem
de sua candidatura. Àquela altura à frente do sindicato dos
metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e já consolidado como o maior
líder de massas do País, Lula aceitou a tarefa na tentativa de ajudar
FH. Os homens que chegariam, um após o outro, à Presidência, haviam
subido no mesmo palanque, no ano anterior, entre as lideranças da
campanha Diretas Já. E, praticamente, isso foi tudo que se registra como
pontos de unidade de ação entre eles.
Oriundos
de classes sociais diferentes, um torneiro mecânico, outro intelectual
de classe internacional, com visões de mundo absolutamente díspares,
Lula e Fernando Henrique passaram a cultivar a crença de que, distantes
um do outro, assim se fortaleceriam. Lula foi talvez o maior crítico dos
anos FH, que, por sua vez, tornou-se o grande comentarista do que via
de negativo na gestão do antigo sindicalista.
No
atual momento, entretanto, em que Lula descobriu e passa a enfrentar um
câncer na laringe, Fernando Henrique foi um dos primeiros a se
pronunciar em solidariedade ao velho adversário. "Desejo o pronto
reestabelecimento dele e, assim que Lula estiver atendendo telefonemas,
pretendo dizer isso pessoalmente a ele", registrou o ex-presidente
sociólogo. Sabe-se que Lula reagiu bem ao gesto de FHC. Já há quem
trabalhe para que o telefonema anunciado por Fernando Henrique aconteça o
quanto antes – e seja sucedido, finalmente, pelo encontro pessoal que
só faria bem não apenas para ambos, mas para todo o Brasil.
CONSIÊNCIA POLÍTICA DF
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